Dinner with Jackson Pollock

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Fazia um tempinho que não investia em livros e comprei esse do Pollock e outro do Monet. O pacote foi entregue na porta da minha casa quando eu estava viajando a trabalho e quando voltei ele não estava mais lá. Foi a primeira vez que tive algo roubado da minha porta, fiquei imensamente chateada. Liguei pra Amazon e eles me perguntaram se eu queria o dinheiro de volta ou que os livros fossem reenviados. Optei pelo reenvio e dois dias depois eles chegaram. O do Monet—bonito, mas com as fotos de sempre, as receitas de sempre. O do Pollock—lindo, criativo, estimulante, muitas histórias sobre ele e a mulher, Lee Krasner, receitas de família, compiladas de recortes e anotações escritas a mão, tudo isso lindamente encadernado em espiral, com fotos históricas, fiquei encantada, não larguei do livro por algumas semanas e fiz algumas das receitas. Com a atual abundância de livros de culinária, onde tudo parece ser feito no mesmo formato, com o mesmo estilo de fotos e layout, esse foi uma exceção muito auspiciosa que me deixou muito feliz!

[eat this peach!]

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E vamos seguir em frente, presidente re-eleito Barack Obama! Muito trabalho nos aguarda pelos próximos quatro anos.

Mastering the Art of French
Cooking [versão para tablet]

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No dia quinze de agosto o mundo comemorou o aniversário de 100 anos da Julia Child. Homenagens abundaram em sintonia com a amplitude da sua influência. Ninguém pode negar que a magnitude do marco de referência que essa mulher se tornou na cultura gastronômica mundial é algo incomensurável. Eu não vou fazer homenagem, porque nem é necessário. Mas como pessoa totalmente favorável às novas midias, quero contar que a editora Knopf Doubleday/Random House Digital lançou em julho deste ano um app para ipad e nook—Mastering the Art of French Cooking: Selected Recipes. A editora já tem os dois volumes do clássico Mastering the Art of French Cooking em versão e-book. Mas nesse app, que tem apenas uma compilação das receitas mais famosas e algum excertos dos livros, traz umas fotos bem legais, tem lista de ingredientes e equipamentos culinários, um depoimento com a Judith Jones que foi uma grande amiga e a editora da Julia, muitos daqueles vídeos pioneiros com a Julia preparando as receitas e a até audio com pronúncia dela para os nomes dos pratos em francês. Não é comparável ao volume massivo dos dois livros, mas custa apenas $2.99 e é bem divertido.

Julia, a pernalonga

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As fotos são do livro que estou lendo no momento—As Always, Julia: The Letters of Julia Child and Avis DeVoto, que compila a correspondência de alguns anos entre Julia e Avis.

Dione Lucas

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Pouca gente sabe, mas antes de Julia Child, a grande musa foi Dione Lucas—a primeira mulher a se graduar pela escola Le Cordon Bleu e a primeira chef a ter um programa de televisão nos EUA. Dione Lucas não era americana, mas sim inglesa. Trabalhou como chef na Europa, abriu o primeiro restaurante e escola Cordon Bleu em New York e foi estrela do primeiro cooking show norte-americano, televisionado entre 1948 e 49 pela rede CBS. Ela também escreveu vários livros sobre culinária francesa e, obviamente, foi uma grande influência e inspiração para a sua mais famosa procedente, Julia Child.

cooking with Zelda

Quando a editora Harper & Brothers pediu para a escritora Zelda Fitzgerald contribuir com uma receita para o Favorite Recipes of Famous Women, ela escreveu—"Veja se há bacon e se houver, pergunte à cozinheira qual a melhor panela para fritá-lo. Então pergunte se há alguns ovos, e se houver tente persuadi-la a cozinhar dois deles poché. É melhor não tentar fazer torradas, pois elas queimam facilmente. Também, no caso do bacon, não coloque o fogo muito alto, ou você terá que sair da casa por uma semana. Sirva, preferivelmente, em pratos de porcelana, embora pratos de ouro ou madeira possam ser usados, se estiverem à mão."

as cozinhas de M.F.K. Fisher

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Quem conhece a grande escritora gastronômica M.F.K. Fisher vai entender o meu entusiasmo por este livro. Quem não conhece, precisa sair correndo [agora!] e ler pelo menos um texto dessa mulher. How to Cook a Wolf, An Alphabet for Gourmets, The Gastronomical Me, entre muitos outros livros da autora, são leitura imprescindível para quem gosta de culinária e gastronomia.

Já li muita coisa dela, mas corri pegar o livro da Joan ReardonM.F.K. Fisher among the Pots and Pans [Celebrating her Kitchens] na biblioteca e depois de algumas páginas lidas, comprei o volume, pra ter na minha biblioteca. Neste livro, a historiadora de culinária faz um apanhado de todas as cozinhas onde Mary Frances cozinhou em toda a sua vida etinerária, entre a Califórnia e Provence. O livro começa com as casas da infância, onde Mary Frances começou suas aventuras na cozinha. No decorrer dos anos, ela muda de cidades e de países inúmeras vezes e em muitas ocasiões se viu cozinhando num fogareiro com apenas uma panela.

Reardon descreve, não somente as cozinhas, mas também as comidas que Mary Frances cozinhava e comia. O livro é uma delícia de ler, especialmente se você já estiver por dentro dos detalhes da vida da escritora, e não precisar entender muito bem os outros acontecimentos, fora da cozinha.

As ilustrações das casas e cozinhas de Mary Frances, feitas em aquarela, decoram o livro com detalhes de delicadeza.

Queria transcrever muitas partes do livro aqui—das toalhas de mesa de linóleo quadriculado, as porcelanas decoradas com flores cor de rosas e a comida que despertou os sentidos de Mary Frances ainda criança, até o diário que ela manteve na sua última casa, onde recebia hóspedes e visitas e anotava tudo o que ela servia e o que cada um comia.

Ela nunca fez aulas de culinária, cozinhava de maneira absolutamente simples, colocando os ingredientes frescos e sazonais em primeiro plano. Sempre recusou ser rotulada com jornalista ou autora de livros de culinária. E nunca se considerou uma criadora ou seguidora de receitas, uma professora ou interprete das escolas francesas. Mary Frances era uma sensualista. Ela acreditava apenas no prazer imenso proporcionado pelo ato de comer e beber.

»tudo sobre M.F.K. Fisher que já rolou por aqui.

fotografando com Penny De Los Santos

Passar um dia na companhia da fotógrafa Penny De Los Santos em San Francisco, fotografando e aprendendo, foi uma oportunidade de ouro que eu agarrei rapidinho, dando um salto triplo de ninja. Nunca fui tão rápida tomando uma decisão e me registrando para um evento. Dez minutos depois da Elise Bauer anunciar que a Penny estaria dando um workshop em SF , eu já estava com o meu espaço garantido. E minha rapidez e destreza valeram a pena! Eu já conhecia a Penny, dos seus trabalhos pra revista Saveur, de outros workshops que eu invejei e já era leitora do seu blog Appetite. No dia do evento, sai de Davis super adiantada, porque não queria pagar mico de chegar atrasada e acabei chegando na cidade uma hora e vinte antes do inicio do workshop. Andei pela Castro Street, comi outro breakfast, enrolei ouvindo gospel no rádio do carro , quando vi a Penny chegando com a Tara do blog Tea & Cookies, que a ajudou a organizar o evento. Fui a primeirona a entrar no restaurante Contigo, onde parte do workshop iria acontecer.

Penny é uma simpatia e uma simplicidade. Veio me receber, o que já me fez inaugurar o primeiro mico do dia. Pra quem ainda não sabe, sou a maior produtora de gafes do oeste norte-americano. Aos pouquinhos os outros participantes foram chegando e infelizmente eu não conhecia ninguém, com exceção da Elise. Na primeira fase do evento, Penny contou um pouco da trajetória dela, mostrou muitas fotos, cada uma com uma história bacana, numa aula de fotografia e de vida. Depois tivemos a oportunidade de fotografar a comida preparada pelo time fabuloso do restaurante Contigo. Também ganhamos permissão para comer todos os "modelos". Durante o workshop Penny circulou pelo restaurante, conversando e dando dicas, dando até pra esquecer por micro segundos que ela era aquela fotografa super fantástica que ilustrava com imagens magnificas as páginas das revistas Saveur e National Geographic.

Penny in SFPenny in SF
Penny in SF
Penny in SF
Penny in SF
Penny in SFPenny in SF
Penny in SF
Penny in SFPenny in SF
Penny in SFPenny in SF
Penny in SF
Penny in SF

Na segunda parte do workshop saimos para as ruas da cidade, primeiro para almoçar, o que eu acabei não fazendo. Encontramos com a Penny na esquina da Mission Street, onde faríamos a segunda parte da nossa tarefa fotografica. Ali mesmo comi o um saquinho de manga fresca, vendida por um mocinho num carrinho que também oferecia abacaxi e papaya. Dali partimos em dois grupos para fotografar perspectivas, pessoas e comida. A parte mais difícil para mim é fotografar pessoas. Pedi, muito sem graça, para fotografar o cachorrinho de uma moça e ela avisou—só o cachorro, pois eu não estou vestida apropriadamente. Tive que obedecer. O Mission District é um gueto latino em San Francisco, cheio de cores e figuras interessantes. Era domingo, então as famílias estavam passeando e almoçando nos inúmeros restaurantes da região. Eu e a Elise entramos num que vendia pupusas e eu pedi licença para fotografar, o dono consentiu, mas a senhora que moldava as pupusas não gostou. Fez cara feia, virou as costas pra mim e ainda reclamou. Tivemos que pedir desculpas e cascar fora.

Depois das duas horas pra cima e pra baixo na Mission, nos encontramos no 18 Reasons, um espaço para eventos relacionados à gastronomia, onde conectamos nossos laptops, escolhemos 12 fotos e fizemos um slide show com fotos de todos os participantes. Me senti invariavelmente frustrada, pois sempre acho que não dei o melhor de mim, que minha timidez é uma pedra no sapato, me atrapalhando muito, eteceterá. Mas minhas fotos não foram vaiadas! Terminando o dia na companhia de uma fotografa tão talentosa e outros vinte e quatro blogueiros, escritores e fotógrafos, me senti flutuando no ar. Como se milhares de portas tivessem sido abertas na minha consciência. A identificação que senti com o trabalho lindo e orgânico da fotografa Penny De Los Santos me deu certeza de que estou no caminho certo. Só falta um pouquinho mais de tempo para fotografar e uma boa dose de coragem e firmeza.

Penny in SFPenny in SF
Penny in SF
Penny in SF
Penny in SFPenny in SF
Penny in SF
Penny in SF
Penny in SF
Penny in SFPenny in SF
Penny in SF

[**fotos dos outros participantes do evento no album do Flickr — Penny in SF]

a revista do Jaime

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Atrás da minha casa tem um shopping center, daquele tipo strip mall, mas com muito mais charme. O estacionamento de carros fica nos fundos e na frente tem um jardinzão com espaço para bicicletas [estamos em Davis], muitas mesinhas pelo passeio e uma área que pertence ao Arboretum da UC Davis no canto, com muitas plantas, árvores e bancos. Deve ser o espaço comercial mais agradável da cidade, com algumas lojas e restaurantes. Uma das lojas é uma livraria, onde eu não vou muito frequentemente, já que compro tudo o que eles vendem lá online. Mas de vez em quando gosto de dar uma geral para ver as novidades. A seção de culinária é sempre o meu ponto final.

No sábado resolvi dar um pulo lá só para encaroçar. Dei uma geral sem muito entusiasmo e quando parei nos livros de receitas vi, num encaixe entre as prateleiras, a revista do Jamie Oliver. Já tinha dado uma olhada na versão online da revista na época do lançamento e achei legal, mas não fiquei entusiasmada ao ponto de ir procurar pela edição no papel. Mas ali estava ela, bem na minha frente, então peguei uma e comecei a folhear, ali mesmo em pé.

A revista é bacaninha, impressa num papel grossinho, bem diferente das outras revistas em geral. É também bonita, com o Jamie sempre na capa [não pude deixar de pensar na Oprah Winfrey—hahaha!] e o conteúdo é bem variado e interessante. Fui folheando, no inicio com aquela minha cara blasé de quem se recusa a ser contaminada pelos hypes da mídia. Mas aos poucos minha cara blasé foi se metamorfoseando numa cara de imensa surpresa. Fechei a revista antes de chegar ao final, porque já tinha decidido que iria comprá-la.

O que me fez decidir comprar a revista do Jaime? Um especial sobre o Líbano, com fotos e receitas maravilhosas!

Vi que aquela edição era de maio/junho e fui até a seção de revistas onde achei a edição julho/agosto. Levei as duas. Que grande surpresa! Na segunda revista, mais reportagens legais, mais fotos inspiradoras, mais receitas bacanérrimas e no final uma matéria linda sobre a cidade de Lisboa.

Gostei tambem de uma seção dobrável e removível em forma de poster no final da revista, com sugestões divertidas e interessantes de menus para um mês. Ao contrário do que eu imaginava, a revista do Jaime Oliver não é só uma ego-trip do rapaz e realmente se destaca no mundinho das revistas gourmet. Sem falar que deve ser a primeira revista que carrega o nome de um chef celebridade. Nem vamos mencionar a revista da horrorilda Rachel Ray. A do Jamie Oliver é outra história, totalmente rock n' roll com muita classe!

Alice & Fanny

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Alice Waters & sua filha Fanny
Foto do livro New California Cuisine—1986
Receitas compiladas e editadas do Los Angeles Times por Rose Dosti

M.F.K. Fisher

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Foto de Chistine Alicino

ninguém engana o lobo

Relendo um dos capítulos de Como Cozinhar um Lobo da M.F.K. Fisher, caí na gargalhada quando li essa passagem, onde ela comenta a nossa neurose em encobrir os cheiros causados durante a preparação da comida. Sendo eu uma dessas, que fica um pouco neurotizada com o cheiro de cebola frita, vesti a carapuça.

"Você pode fazer um acordo, encobrindo um cheiro com outro. Você pode fazer isso, seguindo os ensinamentos da escola Stark de Realismo, acendendo um pedaço de jornal amassado e correndo pelos cômodos da casa com o jornal esfumaçado. Você pode, mais efetivamente [e mais ajeitadamente] pingar gotas de óleo de eucalipto ou pinho numa placa de metal quente e movimentá-la pra lá e pra cá. Se voce quiser se sentir como um personagem dos irmãos James num vago momento romântico, você pode pode pingar umas gotas de óleo de lavanda numa bacia de prata cheia de água quente. E se você é alguém que eu não conheço, e mais que isso, não me importo de nunca conhecer, você pode queimar um pequeno cone de incenso. Ou você pode assar a carne, fritar as cebolas, refogar o alho no vinho tinto... e me convidar pra jantar. Eu nao me importo, realmente, mesmo que seu nariz esteja meio brilhante, contanto que você se sinta confiante e certa de que lobo ou nao lobo, sua mente é sua e seu coracão é de alguém e portanto está no lugar certo."

Fisher era uma mulher com uma prosa fina e uma língua afiada. Ela tinha uma maneira elegante, porém direta, de dar uma opinião. Mesmo sendo uma daquelas encucadas com a possibilidade do meu cabelo estar cheirando a bife frito, concordo com cada palavra desse parágrafo e reconheço o ridículo de tentarmos encobrir o efeito das nossas aventuras culinárias. Mas mesmo assim, quando eu acho que devo, fervo umas emanações com cascas de laranja ou pauzinhos de canela. E lavo o cabelo. No entanto, certamente como a Fisher, não me importo de nunca vir a conhecer pessoas que queimam incenso!

quatro musas

M.F.K. FISHER — o melhor texto de gastronomia em língua inglesa, produzido por uma mulher linda demais e que escrevia bem demais, as melhores histórias, todo blogueiro que gosta de escrever quer, insolentemente ou discretamente, ser um pouquinho como ela, viajada, sabida, charmosa, glamourosa, não nasceu na Califórnia, mas se considerava uma californiana, assim como eu.

JULIA CHILD — danem-se as receitas francesas! eu gosto mesmo é do jeitão bonachão dessa mulher gigante em muitos sentidos, desengonçada, grandona de corpo e com uma voz pequenininha, que nunca pareceu se incomodar por não ser um padrão de beleza, desabrochou tarde, teve uma vida plena, uma californiana que conquistou o mundo, sem planejar, nem se afobar, apenas sendo o que ela sempre foi, insistente e perfeccionista, sem nunca se furtar de admitir que derrubou sim o pernil no chão da cozinha.

ALICE WATERS — ingenua e romanticamente inspirada, um gênio obcecado, iniciou uma revolução, que hoje é parte da história do resgate do simples e do natural, e todo mundo deveria pretender ser um pouco como ela, correndo atrás do que acredita, fazendo sonhos virarem realidade.

JUDITH JONES — antenada, trabalhando sempre quietinha e nos bastidores para nos dar acesso à criaturas fascinantes e criativas, cujos livros hoje enchem nossas estantes e enriquecem a nossa vida cotidiana, com tantas mil histórias, cardápios e receitas, sem o trabalho dela, muitos outros não teriam sido revelados.

Docteur Edouard de Pomiane

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Foi no An Omelette and a Glass of Wine da Elizabeth David que eu primeiro li sobre o Docteur Edouard de Pomiane. David adorava o medico francês, que se considerava polonês e que enfrentou a velha tradição da culinária francesa. Pomiane era um acadêmico que dava aulas no Instituto Pasteur e foi o primeiro a explicar a culinária em termos científicos. Após aposentar-se, ele dedicou o restante da sua vida à culinária. Pomiane escreveu dois livros que se tornaram muito populates—French Cooking in Ten Minutes e Cooking with Pomiane, ambos publicados nos anos 30. Os livros de Pomiane foram inovadores para a época, quando era um sacrilégio romper as tradições mantidas pela escola de Escoffier, que impunha que os cursos da refeição fossem servidos na ordem correta, sempre uma carne seguida de um peixe, zilhões de rococós. Pomiane facilitou a vida dos seres humanos comuns, que não têm o dia inteiro para gastar dentro de uma cozinha, mas mesmo assim querem comer bem e saudavelmente.

Pomiane tinha uma prosa divertida e escrevia falando com o leitor, como se ele também estivesse ali, vendo o que ele via. As receitas publicadas por ele na década de 30, quando o microondas não existia nem em sonho e ter geladeira em casa ainda era o luxo dos luxos, são ainda completamente praticáveis. Em French Cooking in Ten Minutes ele dá vários menus, que a primeira vista parecem saídos de um sofisticado restaurante francês. Mas ele realmente ensina como fazer cada prato em dez minutos. O primeiro conselho—quando entrar em casa, antes mesmo de tirar o casaco, coloque uma panela com água para ferver no fogão à gás, ele frisa. Pra que vai servir a água? Ele responde que não sabe, mas com certeza ela terá algum proveito, se não para colocar um dos itens do menu em prática, ao menos servirá para fazer o café.

Os menus de Pomiane incluem entrada, prato principal, salada, pão, queijos e frutas. Acompanha água e vinho. Nunca refrigerante. Tudo em pequenas porções, que satisfaz sem pesar no estômago, sem acrescentar quilinhos extras e sem furar o bolso. Ele usa alguns produtos enlatados, na falta do mesmo fresco. Na época de Pomiane ainda não existiam os produtos congelados.

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Onion soup

Saddle of hare with sour cream

Buttered beets

Green Salad

Cheese

Jam cookies


Pumpkin soup

Creamed salt cod

Buttered green peas

Cheese

Fruit

Ainda não fiz um menu inteiro. Mas sei que farei. No entanto já testei uma sopa de cebola. Não calculei o tempo pra ver se levou mesmo dez minutos, mas garanto que foi rápido e a sopa ficou deliciosa.

Onion Soup [em dez minutos]

Manteiga
1 cebola grande picada
1 colher de chá de farinha de trigo
Água fevendo [*olha aí a utilidade dela!]
Sal e pimenta a gosto
Pão amanhecido ou torradas
Queijo parmesão ralado
Leite quente, crème de leite fresco ou um ovo batido [* itens opcionais, mas eu escolhi usar o crème de leite]

Coloque um tanto de manteiga numa panela, deixe derreter e adicione a cebola picada. Cozinhe em fogo alto até a cebola ficar num tom amarronzado. Adicione a farinha e misture bem, adicione um pouco de água morna, depois jogue 2 xícaras de água fervendo. Deixe cozinhar por 8 minutos, adicione sal e pimenta. Coloque pequenos pedaços de pão amanhecido ou torradas num prato, salpique com queijo parmesão. Adicione a sopa, um pouco de crème de leite [ou leite, ou um ovo batido] e sirva.

não tem horta na Casa Branca

Tarde da noite de 12 de agosto de 1993, o presidente dos Estados Unidos que adorava junk food ligou para o restaurante Chez Panisse direto do seu avião particular, o Air Force One. Ele estava faminto. Alice Waters estava em San Francisco, mas um telefonema a trouxe de volta a Berkeley, atravessando a Bay Bridge em alta velocidade. Uma hora depois, Bill Clinton e companhia aportaram no Chez Panisse. Tentando ignorar os quarenta agentes do Serviço Secreto que se espalharam pelo restaurante, Alice se empenhou ao máximo para montar um cenário de elegante hospitalidade, servindo ao presidente uma pequena ceia no meio da noite, com tomates golden nugget, fettuccine com milho e caranguejo, uma salada de vagens e cogumelos chanterelles, pizza sem queijo [ítem que a dieta do presidente não permitia], prosciutto caseiro, e de sobremesa—a parte da refeição que Alice sabia ser a favorita de Clinton—sorvete de blackberries, raspberry shortcake, framboesas, morangos, maças Gravenstein e um pudim de limão com morangos selvagens. Alice não deixou o presidente pagar a conta.

No dia seguinte o jornal San Francisco Chonicle relatou a visita do presidente ao restaurante em Berkeley—Alice, que tinha declinado o convite para cozinhar na posse do Ronald Regan em 1982 argumentando que não sabia onde ficava Washington, aproveitou a oportunidade para chamar a atenção de Clinton para o projeto das hortas em San Francisco, onde os prisioneiros plantam os legumes e verduras que depois são vendidos para restaurantes como o dela. Ela falou também sobre a importância de estar conectado com o que se come e se planta.

Thomas Mcnamee - Alice Waters and Chez Panisse

Nos anos seguintes, Alice se empenhou numa correspondência com Bill e Hillary, onde abordava a possibilidade da implementação de uma horta na Casa Branca e também sobre o seu projeto dos Edible Schoolyard. O casal Clinton respondia as requisições de Alice, com gentileza, mas sem nenhuma determinação em efetivar nenhum projeto de horta. E nunca fizeram.

celebridades

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Na semana passada o Bill Clinton esteve aqui na UC Davis, fazendo campanha para a sua querida cara-metade que é candidata a candidata à presidência do país. O Uriel pensou em ir lá ouvir o que ele tinha pra dizer, eu descartei na hora, porque sinceramente abomino muvucas. Não fomos. Nesta semana recebemos o jornalzinho da universidade e quando vimos a foto ilustrando a matéria da visita do ex-presidente, quase caimos da cadeira. Quem é que está abraçada com o Bill, sorrindo com aquele sorrisão de ferrinhos prateado? Quem? Quem? Quem??

Ninguém menos que a nossa inquilina!

A inquilina da nossa guest house é uma figuraça extraordinária. Os assíduos deste blog já puderam ler histórias com ela, como esta aqui ou esta aqui. Agora estão tendo a oportunidade de ler mais uma, desta vez com ela arrasando Arkansas em chamas, abraçada ao Billy The Kid. Bom, pelo menos agora já sei quais são as inclinações políticas dela. Muito bem, garota!

what would Michael Pollan eat?

Michael Pollan acabou de lançar um livro novo—In Defense of Food: An Eater's Manifesto, que eu já comprei e estou esperando chegar. O livro parece ser a última palavra de Pollan no assunto alimentação. Ele quer rolar a bola pra frente, pesquisar e escrever sobre outros assuntos. O negócio é que o impacto do O Dilema do Onívoro o transformou numa espécie de guru do comer bem e certo, o revolucionário da alimentação e da conscientização coletiva sobre os horrores da criação de animais aqui nos EUA. E vai ser difícil ele se esquivar desse papel agora. Uma entrevista com ele hoje no San Francisco Chronicle dá algumas dicas—What would Michael Pollan eat?

O que Pollan tem a dizer: eat food. not too much. mostly plants. A base dessa revolução é simplesmente o retorno à maneira tradicional de se alimentar. Do tempo em que comer estava intimamente relacionado com o prazer dos sabores e a manutenção da saúde do nosso corpo. Ele aconselha que não se caia na armadilha de tratar a comida como suplemento de dieta. Comer blueberries pelos antioxidantes e não pelo seu delicioso sabor. Ele também pede que todos ignorem as dietas low-fat e low-carb. Comer uma boa variedade de frutas, verduras, legumes, grãos. Escolher a proteína com cuidado, tentando comprar carne do boi que pastou, da galinha que ciscou livremente, do porco que chafurdou, do peixe pescado com linha, prestando atenção na sustentabilidade de todo esse processo.

Eat your view!

“Eat your view!”—Atualmente lê-se isso por toda a Europa em adesivos colados por todos os cantos. Como está implícito na expressão, a decisão de consumir produtos locais não é somente um ato de conservação, mas é também uma ação provavelmente muito mais efetiva [e sustentável] que mandar cheques para organizações ambientais.

Mas “Eat your view!” envolve um bocado de trabalho. Participar da economia local requer um esforço consideravelmente maior do que fazer compras no Whole Foods. Não iremos encontrar produtos para o microondas nos Farmer’s Markets ou na nossa cesta orgânica dos CSA [Community Supported Agriculture], e certamente não poderemos comprar tomates em dezembro. O consumidor de produtos locais vai precisar correr atras da fonte para a sua comida. Vai ter que descobrir quem tem a melhor carne de carneiro ou os melhores milhos. Depois disso, ele ainda vai precisar se reconectar com a sua cozinha. O maior atrativo da comida industrializada é a conveniência, pois ela oferece a oportunidade para que as pessoas muito ocupadas deleguem para outros o ato de preparar [e preservar] o seu alimento. No lado oposto da cadeia alimentar industrializada, que se inicia numa fazenda com plantação de milho em Iowa, um consumidor de alimentos industrializados senta-se a mesa [ou, cada vez mais freqüente, no banco do carro]. O maior mérito do sistema industrial de alimentos foi ter nos transformado nessa criatura.

Tudo isso para dizer que o sucesso de uma economia local implica não somente num novo tipo de produtor, mas também num novo tipo de consumidor. O tipo que encara as tarefas de procurar, comprar, preparar e preservar o alimento não como um fardo, mas como um prazer. O tipo cujo paladar não lhe permite comer num MacDonald’s e cujo senso de comunidade não lhe deixa fazer compras num Wal-Mart. Esse é o consumidor que entende a frase memorável de Wendell Berry—comer é um ato agrícola, onde poderíamos acrescentar que é também um ato politico.

Michael Pollan em O Dilema do Onívoro

the scrapbook

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O scrapbook de fotos de M.F.K. Fisher me deu uma idéia geral da vida dessa mulher, por quem eu ando totalmente fascinada. Por isso é capaz de eu ficar um pouco monónota, batendo na mesma tecla e voltando toda hora no mesmo assunto. Mas pra mim isso é necessário, pois preciso escrever sobre as coisas que me interessam, mesmo que eu corra o risco de virar uma chatonilda repetitiva.

Fisher foi uma mulher inteligente, linda, elegante e engraçada. Escrevia muito bem e por isso traduziu suas experiências e descobertas culinárias em histórias interessantes. Ainda nem arranhei a superfície da quantidade de material bacana que ela produziu. Na introdução de The Art of Eating, uma de suas filhas conta que a ouvia teclar de madrugada na máquina de escrever e diz que o barulhinho da mãe escrevendo lhe proporcionava um conforto acolhedor. Eu me identifico com a maneira de Fisher encarar a culinária e a gastronomia sem arrogância e sem firulas. Como aqueles famosos gomos de tangerina que ela secava no calor do aquecedor do hotel, e que transformaram-se numa iguaria inigualável. Ou os pequenos quadradinhos de chocolate, que ela conta ter comido acompanhados de uma fatia de pão num dia frio e tedioso num bosque na Bavária, e que ficou na memória como um dos melhores momentos gastronômicos de sua vida.

* as fotos são clicáveis e ampliáveis.




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