obladi oblada

Porque o dia vai ser cheio, o post vai ser Seinfeld style, sobre nada. Porque não pára de chover e o dia está escuro. Porque estou trabalhando em vários projetos e um deles – segredo – é muito especial. Porque fico triste que meus gatos não são amigos. Porque decidi comer uma maçã por dia, mesmo não curtindo muito essa fruta. Porque não mexi a bunda ainda para nada relativo ao Natal. Porque estou animada para ver o mar no inverno. Porque estou aceitando mais desafios. Porque admiro pessoas que tem classe. Porque desprezo gente babaca. Porque meu travesseiro cheira a sachê de açaí. Porque eu simplesmente amo filmes antigos. Porque tento cozinhar peixe uma vez por semana. Porque me falaram mais uma vez que eu pareço com a Nigella Lawson. Porque vou precisar pegar na vassoura em breve. Porque estou sempre ouvindo Blues tradicional. Porque eu não ligo pra modismos. Porque estamos sempre rindo. Porque eu sou desorganizada pacas. Porque ele também é. Porque a água me anima e me conforta. Porque quero assar um bolo. Porque os legumes e verduras deixam a geladeira colorida. Porque tudo aqui cheira a lavanda. Porque tenho muitas pilhas de revista. Porque estou sempre click-click-click. Porque gosto de inovar. Porque também gosto de tradição. Porque nunca vamos ser iguais. Porque eu não consigo parar de tricotar. Porque eu não gosto de falar com qualquer um no telefone. Porque eu gosto de papear com a minha irmã no telefone. Porque eu sou Esther Williams. Porque eu sonho muito, demais. Porque eu tenho amigos que eu adoro. Porque bebemos muita limonada. Porque não consigo parar de escrever, mesmo que eu só escreva sobre o nada.
*post reciclado do The Chatterbox, de 8 de dezembro de 2004.

A Raposa Vermelha

Minha melhor amiga no colegial, a Teresa, era neta e sobrinha das proprietárias da Raposa Vermelha. Por anos, a Raposa foi uma loja de discos e livros, novos e usados, instalada na garagem/basement da casa da Dona Olga e da Ieda na rua Padre Vieira, em Campinas. Era uma casa antiga, de dois andares, mais o porão, toda pintada de um roxo cor de berinjela. Era um dos lugares mais cool da cidade para se ouvir a melhor música, achar raridades. As paredes da loja eram cobertas de posters de bandas e músicos. Aquilo era um paraíso. Sempre inovadoras, Dona Olga e sua filha Ieda praticavam a macrobiótica e resolveram abrir um entreposto. A Teresa trabalhou lá por um tempo e me chamou para substituí-la quando precisou parar. Era 1980. Foi meu primeiro emprego! Eu ganhava uma miserinha, mas adorava trabalhar lá. A loja de macrobiótica foi instalada no porão da casa, entre a loja de discos e livros e uns cômodos ultra maravilhosos, decorados com móveis antigos, onde a Ieda lia tarôt e vendia umas roupas super transadas. Pra chegar na loja macrô tinha que atravessar a loja de música, entrar num corredorzinho e voalá, atrás de um balcãozinho de madeira crua ficava eu, toda odara, extremamente tímida e reservada, lendo livros e vendendo os produtos. Às vezes eu tinha que ensacar arroz integral, que a Ieda comprava no atacado. Outras vezes eu reorganizava as prateleiras. Quando chegava cliente, eu orientava, cobrava a mercadoria, empacotava muito simplesmente em sacos de papel e dava troco, essas coisas. Mas na maioria do tempo a loja ficava vazia e eu ficava ouvindo as músicas maravilhosas que o Fer, que trabalhava na parte de discos, tocava o tempo todo, e lendo os livros macrôs e naturebas da pequena livraria, que oferecia literatura básica e avançada sobre o assunto. Eu li muito nessa época – li e me surpreendi com o fato de que eu era NORMAL na minha repugnância por carnes. Naquela época eu encontrei a minha turma, mesmo sendo eu uma natural born e sem nenhuma idéia filosófica sobre alimentação natural, carnes, açúcar, eteceterá.

A Raposa Vermelha mudou a minha vida. Eu passava as minhas tardes lá, se não lendo, ouvindo os papos mais variados do pessoal que frequentava a loja, entre eles muitos malhadores da Coca-cola e demonizadores do açúcar branco. Um deles batia ponto no local diariamente e contou uma vez como ficou envenenado depois que comeu uma lasca de frango e do barato que ele sentiu respirando oxigênio puro nos tubos quando ele mergulhava. Era cada história… Pra mim era tudo o máximo! Um dia um casal muito estranho entrou na loja e ficou numa atitude suspeitíssima num cantinho da loja [e ela era minúscula!] onde ficavam uns produtos bem caros. Eu fiquei com a pulga atrás da orelha, mas a loja estava cheia e não pude prestar muita atenção as manobras do casal. Quando o movimento acalmou, fui lá no cantinho ver o que o casal olhava tanto e vi que uma das caixinhas daqueles suplementos importados estava aberta e vazia. Eles tinham roubado o negócio. Contei pra Ieda e ficamos confabulando sobre essa história. Um dia a Ieda veio me contar que estava iniciando um papo com aquele fulano assíduo da loja, o do barato do oxigênio, contando as preliminares do roubo, falando algo do tipo, nossa, a gente confia nas pessoas e vê só no que dá, elas nos roubam, quando o cara começou a chorar e a pedir perdão! Sem querer ela provocou a revelação de outro meliante, que confessou aos prantos que toda vez que ia ao banheiro da loja – onde ficavam estocados alguns produtos, ele embolsava algo. Ficamos pasmas e rimos muito! O cara voltou a frequentar a loja, mas nunca mais pediu para usar o banheiro.

* Por que o nome da loja era A Raposa Vermelha? Por causa da raposa vestida de vermelho da capa do álbum Foxtrot do Genesis ainda com o Peter Gabriel, de quem o marido da Ieda era fã.

sete

O convite foi feito pela Tatu. Sete coisas sobre mim:
—Na adolescência trabalhei numa loja de macrobiótica.
—Choro vendo comercial na tv, olhando foto de cachorro e de gente comendo.
—Nunca fiz um regime, nem pra emagrecer, nem pra engordar.
—Tenho nojo de ovo, carnes e leite.
—Meu café com leite matinal tem que ser morno.
—Chupo gelo. Como casca de fruta. Adoro morder o macarrão semi-cru.
—Deixo sempre pra comer a melhor parte ou que que mais gosto por último.

jujube – the chinese date

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De vez em quando elas vem como treat na cesta orgânica. Sinceramente, não sei o que fazer com elas. Li que elas podem ser cozidas no açúcar, fazer uma espécie de doce em calda. Ou virar xarope. Ou até vinho. Mas eu acabo comendo elas assim mesmo ao natural ou secas. Essas jujubes têm propriedades medicinais e o gosto se assemelha um pouco ao da maçã. Uma maçã bem chumbreguinha e quase sem gosto.

nada a declarar

Minha cunhada pediu um vidro de peanut butter e uma caixa de taco shells. No inicio eu achei esse pedido meio bizarro, mas depois repensei e percebi que essas coisas são muito mais naturais quando estamos do lado requisitor do pedido. Quem não rola os olhos e faz aquela cara de deboche quando me ouve pedir um naco de goiabada cascão, um pacote de carne seca, envelopinhos de guaraná em pó, ou mesmo – o recorde da indignação e dos risinhos – uma lata de azeite Maria, que nem é azeite puro, mas misturado com óleo de soja. Ninguém explica essas bichas alimentares. Então quando alguém me pede algo, eu nunca questiono, vou comprar resignadamente.

Histórias de carregamentos estranhos de um país para o outro são super comuns.

Minha mãe é expert nesses contrabandos gastronômicos. Uma vez indo me visitar no Canadá ela enfureceu o meu irmão, quando enfiou DEZ sacos de farinha de mandioca na mala, para satisfazer o meu pedido de UM saco. Meu irmão ficou louco – mas que farofice, que coisa brega, que baixaria! Ela trouxe assim mesmo, junto com tuperwares cheios de maria-moles feitas em casa, pela empregada. Eu acabei virando a pessoa mais popular do pedaço, quando presenteei um monte de brasileiro com sacos fresquinhos de farinha. Nem se eu comesse farofa todo santo dia, iria dar conta dos dez sacos. Mas as maria-moles nós devoramos em minutos.

Numa outra vez, quando eu já estava nos EUA, ela parou primeiro em Los Angeles, pra ficar umas semanas na casa do meu irmão. Na mala, seis ovos de Páscoa para as minhas duas sobrinhas. Também trouxe a máquina de fazer macarrão e preparou uma bela macarronada lá, e outra aqui, quando o Gabriel girou a manivela mais uma vez e nós devoramos aquela delicia feita com apenas farinha e ovos, temperada com um molho de tomates grosso que só ela sabe fazer e ninguém consegue imitar.

Nos aniversários do Gabriel e natais, chegam sempre umas caixonas vindas do Brasil. Elas vem carregadas com bandejinhas de quindim, queijadinha, pé de moleque, cocada, maria-mole, olho de sogra, cajuzinho, brigadeiro. Remetente: Dona Odette Guimarães.

Quando minha mãe vai a Portugal, volta parecendo uma quitanda, carregando vidros de pimenta em conserva e garrafas de vinho na mala de mão. Uma vez ela ganhou um bacalhau enorme da sogra portuguesa da minha irmã. Levou o bacalhau pro Brasil bem embrulhado e tal. Daí veio me visitar e sugeriu trazer o bacalhau com ela. Por mais que eu adore essa iguaria e sinta falta de uma bela bacalhoada, eu a proíbi categoricamente – NADA de trazer bacalhau nenhum! Imagina, passar com um bacalhau na alfândega americana? Onde já se viu, mamãe, tá louca? Mas ela ouviu? Obedeceu? Concordou? Claro que não! Quando ela chegou, abriu a mala e me mostrou morrendo de rir um pacotão comprido: era o bacalhau! Resignada, aceitei o fato de que teríamos bacalhoada no final de semana. E assim minha mãe preparou para o nosso deleite, a receita de bacalhoada da portuguesa Dona Rosa, mãe do Luís, marido da minha irmã.

limões do limoeiro

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Meu limoeiro está carregadíssimo de limões enormes, verdinhos. Estou começando a colher. Pego quando preciso de um. Eles estão bem suculentos, tenho usado para temperar salada, colocar na água e fazer limonada suiça. Esse limão verde é chamado de lime aqui. Os amarelos é que tem o nome de lemon. Mas pra mim esses são os verdadeiros limões, pois foi dos verdes que eu cresci bebendo limonada.

alguns dias são segundas-feiras

Fiquei tentando arranjar uma desculpa para todo o desastre do jantar – é que segunda-feira é um dia atrapalhado, viu, chego em casa e ainda tenho que pegar o carro e ir até a fazenda buscar a cesta orgânica, e depois tenho que separar tudo, lavar, guardar. já chego em casa super cansada, você sabe, não me sobra muito ânimo depois de um dia cheio. quando o Gabe morava aqui ele colocava as louças na máquina, deixava a pia limpa, tudo prontinho. e tirava o lixo. mas eu não entendo por que eu sou assim tão atrapalhada. Você quer que eu cozinhe? Foi a resposta em forma de pergunta que ele deu à minha lenga-lenga explicatória. Todos os meus desastres ainda são melhores do que ele tentando fritar um ovo. Ficamos do jeito que estamos, combinados então, e ele até tomou a sopa arriscando me dar um conselho – só não bebe o caldo, que o resto está comível.

pra fazer pipoca

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Os treats que vem na minha cesta orgânica, ora são vários tipos de feijões, tomates secos, ramalhetes de flores e às vezes chegam as pipocas de milho amarelo ou roxo. Normalmente o milho já vem debulhado, outras vezes vem assim, na espiga. Dói o dedo para debulhar – não tenho a técnica – mas dá uma sensação boa, por poder participar de uma das etapas. E a pipoca, sem brincadeira, é uma das melhores, crocante e saborosa, feita em qualquer panela, com um pouquinho de óleo de canola ou manteiga. Eu devoro um tantão sozinha, sem culpa!