três gatos [na cozinha]

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Roux — Sequel & Tim

alto verão

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Essa é a época do ano em que eu fico super animada com a avalanche de tomates, melões, pêssegos, figos, com os dias longos, quando dá pra fazer tantas coisas até ser finalmente derrotada pelo cansaço e pela luz rosada do cair da noite. Mas por outro lado já vou ficando um pouco exausta com os dias calorentos, desejando uma brisa mais refrescante, uma mudança de direção. Vou aproveitando o que o verão tem de bom e olhando para o horizonte, na expectativa do que vamos ter pela frente.

Ando trabalhando muito, muito mesmo e quase não tenho mais tempo pra nada. Pra adicionar mais trabalho em cima do trabalho, temos hospedes na casa. Além do gato Roux, que passou uns meses andarilho pelas ruas de Woodland e retornou ileso para a nossa imensa alegria, agora temos os gatos Tim e Sequel, que ficarão aqui em casa até fevereiro. Eles são os gatos do Gabriel, o meu filho que está passando alguns meses experienciando a vida brasileira. A adaptação foi mediana—ninguém ficou amigo, mas também ninguém ficou inimigo, o que já é um grande alivio. Roux mudou, de gato espevitado virou um gato zen, quase reservado, alheio ao bafáfa. Tim é o gato velcro, que cola nas pessoas de uma maneira até engraçada. É o pomponzão que agora senta no meu colo quando estou tomando meu café da manhã. Sequel é o gatinho bully, o menorzinho de todos e o mais audacioso. Tem uma micro vozinha e fala comigo pedindo sei lá o que mas não gosta de muita aproximação. Tim e Sequel cresceram juntos e são super amigos, então a situação é de dois contra um—um pouco injusto, eu sei. Como não bastava a casa estar cheia de gatos se estranhando, aportou também por aqui uma cachorra, que vai ficar hospedada em casa por três semanas. Ela é velhinha, gigante e dominadora, tem ciúmes dos gatos e fica colada em mim o tempo todo. E são duas caminhadas por dia, que até que consegui encaixar bem no meu esquema apertado.

Este verão está um pouco diferente, então não vou ficar escrevendo sobre os tomates, os campos de tomate, a colheita do tomate, o festival do tomate, eteceterá. Neste verão eu estou botando mesmo os bofes pra fora com cachorra e com gatos, mas compenso bebendo cocktails, devorando saladas e toneladas de frutas, e me fartando daquele vinagre que tenho oferecido pra todas as minhas visitas. É muito engraçado ver a reação quando eu digo—quer beber um vinagre? E depois ver a cara de surpresa e prazer que todos fazem ao sorver o liquido borbulhante e refrescante. Saúde!

os impertinentes

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não largam do meu pé!

a arte de mendigar [comida]

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tem algo pra mim? tem? tem?

Eles são incrivelmente fofinhos e abstraindo os potentes dentões parecem até um bichinho de estimação. Mas eles são uma verdadeira peste e infestam o campus Davis da Universidade da Califórnia onde eu trabalho. Agora que o tempo esquentou e já pude voltar a comer outdoors, os esquilos voltaram a participar do meu almoço. É uma participação de figurante, já que eles não protagonizam nenhuma comilança, apenas me rodeiam pedindo coisas. Uns são mais tímidos e ficam relutantemente me olhando de longe, na esperança que eu deixe algum farelo para trás. Outros são realmente audaciosos e chegam bem perto, quase me cutucam, me olhando com umas caras muito melodramáticas de pidões esfomeados. Fico com pena, mas não dou absolutamente nada, pois eles têm muitas outras comidas mais apropriadas pra eles no campus, como azeitonas, acorns, nozes, cerejas, e pêssegos. E porque sou contra alimentar animais silvestres com comida de humanos.

yorkshire pudding
[e uma história antiga]

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saidos do forno
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no forno
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e o galetinho

Numa das nossas férias voltando a pé das nossas nadações em um dos rios da cidade, meu primo paulistano que passava todas as férias de verão e de inverno com a gente lá no interior viu uns pintinhos ciscando soltos pela beira da estrada. Nunca admitimos o fato de que os pintinhos deveriam ter donos e de que fizemos uma afanação ilegal, mas a verdade é que simplesmente decidimos levar os bichos pra casa. Na minha casa tinha um galinheiro, normalmente vazio, onde ficavam provisóriamente as galinhas compradas vivas para serem abatidas e virarem frango assado no domingo. Os pintinhos ficaram por ali e as férias nem tinham terminado e eles já tinham virado uns franguetes. Num belo domingo ensolarado fomos ao clube e voltamos animados e cheios de fome para um almoço de churrasco que tinha sido anunciado desde o sábado. Para o nosso mais completo horror, o prato principal do churrasco era galeto—feito com os nossos franguinhos. Lembro que as crianças sairam chocadas da mesa e não sei se os outros voltaram e comeram, mas eu não arredei o pé e passei um domingo esfomeada e magoada. Por essa e por outras que nunca tinha ousado comprar o cornish hen—o franguinho jovem. Outro dia fazendo compras no Co-op resolvi levar um, dos caipiras. No minuto em que peguei o bichinho já me deu um certo remorço. O Uriel recomendou que eu devolvesse o frango pra geladeira, mas eu insisti e levei Vá lá, vou tentar. Quando desempacotei o bicho o arrependimento bateu forte, porque ele é uma coisinha e veio com o pescoçinho, bem fininho e comprido. Quase chorei. Pra não estender a minha tortura, decidi fazer o galeto à maneira do Thomas Keller como fiz com o frango grande nesta receita incrível. Desta vez coloquei fatias de pão amanhecido por baixo do franguinho, sequei bem, temperei com sal e pimenta e fiz como da outra vez, só que desta sem fumacê. Na hora de servir deixei descansar, reguei com azeite e salpiquei com folhas frescas de tomilho. Ficou gostoso e serviu bem duas pessoas numa refeição. E agora que já fiz o galeto, sossegarei o facho e não vou precisar fazer novamente por muitos e muitos anos. Para acompanhar o galeto, fiz uma salada de folhas de alface e um purê de batata doce [das cor de laranja]. Cozinhei as rodelas descascadas em água até elas quase desmancharem, amassei com um garfo, adicionei sal, manteiga e um pouco de leite e voalá. E também fiz os yorkshire puddings, que são sempre um ótimo acompanhamento. Escolhi esta receita super fácil e os bolinhos ficaram lindíssimos e super leves. Acrescentei folhinhas de alecrim fresco na massa e adoramos o resultado, que ficou bem aromático.

1 xícara de farinha de trigo
1/2 colher de chá de sal
2 ovos caipiras
3/4 xícara de água
1/2 xícara de leite
Folhinhas de alecrim fresco

Numa vasilha misture todos ingredientes com um batedor de arame até formar uma massa bem lisa, não muito grossa. Se tiver tempo deixe descansar na geladeira por 1 hora, senão prossiga. Unte 12 forminhas de muffins ou de popover [*usei de mini popover] com azeite, coloque 3 colheres de sopa da massa em cada forma e leve ao forno pré-aquecido em 425ºF/ 220ºC por 20 minutos. A massa vai crescer e sair pra fora das formas. Remova do forno e sirva imediatamente.

e os esquilos...

EsquilosEsquilos
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EsquilosEsquilos
EsquilosEsquilos

No outono eles dão mais sossego, porque o campus fica todo salpicado de acorns, que é a comida natural deles. Mas no verão eles me atazanaram pra valer enquanto eu almoçava no páteo atrás do meu prédio. Era uma pedição de comida, uma ousadia, um atrevimento sem parâmetros. Nunca vi tanta audácia, pois eles chegavam pertíssimo, uns cheiravam o meu pé, um outro até tentou abocanhar meu dedão. Mas nunca dei nada pra eles, porque sou contra alimentar animais silvestres com comida de humanos. Embora tenha deixado algumas vezes nos bancos de madeira um treat mais apropriado para a dieta eles—os caroços dos damascos que eu comia de sobremesa.

quase tudo sempre igual, com algumas diferenças

É bem raro eu conseguir tirar uma foto dos meus dois gatos juntos, já que o mais velho, Misty, mantém o máximo de distância possível do mais novo, Roux. gatos-cadeiras_1S.jpgSão sete anos testemunhando o esforço do pequeno para conquistar o mais velho e sua frustração ao ser esnobado, rejeitado e grunido, nas tentativas inúteis de solidificação de uma amizade.

Agora entrou um outro animal na jogada. E eu tinha certeza que o Roux seria o primeiro a se aproximar da cachorra Boo Meringue, que tem nos visitado frequentemente. Ela é a cachorra da namorada do meu filho e aparentemente é aberta às amizades com felinos. Está vivendo numa casa com dois gatos que a esnobam e quando chegou aqui tentou se aproximar dos meus gatonildos. Para a minha surpresa, o Roux foi o que cascou fora em pinotes histéricos e assustados, e mesmo depois de inúmeras visitas, ainda não aceitou a presença ocasional da cachorra. Já o Misty não teve nenhuma reação. Talvez pelo fato dele estar surdo e não escutar o pequeno alvoroço da chegada da visitante. Mas mesmo quando ela chega bem perto dele, pra cheirar o nariz [ou o outro lado, hahaha] ele não se abala. Está sempre dormindo em algum canto e prefere as cadeiras encaixadas nas mesas, localização perfeita por impor mais dificuldades às aproximações do Roux.

Neste dia, quando o Roux sentiu a chegada da Boo, já se pirulitou e foi se esconder no andar de cima da casa. O Misty passou o tempo todo dormindo na cadeira e a Boo o resto do tempo do outro lado da mesa. Na hora da despedida dos visitantes, o Roux desceu, já pressentindo que a área estaria segura para ele circular novamente. Quando ele viu que a cachorra ainda estava na cozinha, se colocou embaixo da cadeira—o seu refugio clássico, pra onde ele corre sempre que faz algo errado ou qualquer reboliço acontece. E foi assim que eu consegui tirar uma foto dos dois gatos numa divertida proximidade: Misty na dele, dormindo e Roux na vigilia, aguardando alerta e desconfiado a partida da cachorra invasora.

um ano sem safra

Leitores antigos do Chucrute podem estar coçando o queixo e se perguntando por que eu ainda não comentei absolutamente nada sobre as colheitas de verão no meu quintal: as nectarinas e os tomates. Bom, desta vez não tivemos safra e vou explicar detalhadamente os motivos.

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a última colheita de nectarinas

Este ano o Uriel resolveu podar a árvore de nectarinas, que estava com galhos muito compridos tendo que ser amparados por vigas de madeira, porque o tronco não é ainda robusto o suficiente para sustentá-los. Com a poda—que eu achei exagerada, mas ele disse ter sido necessária—perdeu-se muitas flores e com elas foram-se os frutos. As que sobraram sofreram ataques contínuos, primeiro por uma dessas doenças que danificam as folhas, depois pelos habitantes alienigenas do meu quintal. Normalmente somente os audaciosos e agressivos blue jays davam suas bicadas nas frutas, mas neste ano a invasão de criaturas famintas foi devastadora. Tivemos visitas constantes de esquilos, lebres e ratos selvagens, mandando bala em tudo que encontraram pela frente. As poucas nectarinas que sobreviveram à poda e à doença, frutificaram e cresceram para serem completamente devoradas pelos seres invasores. Eu ainda consegui ver algumas penduradas na árvore, parcialmente mordidas e depois só encontrei caroços espalhados pelo chão do quintal. O mesmo aconteceu com os dois pés de pêssegos, cujas poucas frutinhas desapareceram como num passe de mágica.

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—mãos ao alto aí, mocréia! e vai passando todos os tomates pra cá, rapidinho, rapidinho, perdeu prayboy, perdeu, perdeu!

Mas o maior estrago e a maior frustração aconteceu na horta, com os tomateiros. Plantei quatro pés, compro mudas orgânicas de heirlooms e fico na maior expectativa. Este ano plantei também dois pézinhos de berinjela, uma japonesa a outra branca. Consegui colher uma berinjelinha e alguns tomatinhos pera. O resto não deu tempo nem de amadurecer. Um tomate verde que eu via ali num pé, no outro dia já não estava mais. Fui ficando realmente irritada, frustrada e desolada, pois não quero assassinar criaturas no meu quintal e não tenho tempo de ficar vigiando pra pegar meliantes no flagra. O ideal seria colocar uma tela em volta das plantas, mas não vi nenhuma possibilidade de fazer isso num espaço tão pequeno como o da a minha horta. Depois de chorar lágrimas de ódio pelos tomates sumidos e pelos tomateiros semi-destruídos, eu simplesmente desisti, joguei a toalha, deitei tudo a perder e enfurecida declarei aos berros no meio do quintal—VÃO EM FRENTE, COMAM TUDO, A HORTA FOI DOMINADA E CONQUISTADA, VOCÊS VENCERAM, FOFURAS MALDITAS!

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good bye dear tomato

Casquei fora e deixei tudo lá, matagal crescendo, tomateiros cheios de galhos quebrados, pés de berinjela destruídos, nem a menta chocolate conseguiu fazer bonito neste ano. Enquanto eu não tomar coragem pra pegar em armas, explosivos e venenos, ou a bicharada não encontrar outro quintal para se fartar, me rendo. Talvez no próximo ano eu tenha mais sorte.

a comedora de grama

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Temos outra lebre vivendo nas cercanias este ano. Não deve ser a mesma do ano passado, mas é tão fofinha quanto. Ela aparece todo dia no meu quintal e fica lá concentrada, comendo a grama.

nosso novo inquilino

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um esquilo

foi o esquilo que me encarou

Na frente da porta de entrada para a minha sala no meu trabalho tem um arbusto que se enche de pequenas flores no verão e que no outono viram frutos ovalados com uma cor verde bem escura. Esse arbusto é um pé de feijoa, uma fruta deliciosa também conhecida como goiaba mexicana. Eu levei muito tempo para me tocar que aquelas frutinhas eram feijoas, já que elas desaparecem rapidamente por serem vilmente atacadas e devoradas ainda verdes pelos esquilos.

Voltando da minha caminhada estica-pernas das três da tarde observei uma comoção esquilanesca nas proximidades do pé de feijoa. Foi quando peguei no flagra três esquilos, que já roiam covardemente as tais frutinhas. Minha presença e cara nada amigáveis fizeram com que dois dos esquilos se pirulitassem e fossem procurar por coisinhas comestíveis na grama de outra árvore mais próxima. Mas um deles não se moveu, ficou ali plantado e me encarou. O esquilo me encarou sem piscar, nem disfarçar, não abaixou a cabeça, não vacilou. Ele simplesmente me encarou. E eu encarei de volta, enquando ele subia pelos galhos da árvore, sem nunca virar a cabeça, sempre firme me encarando. O duelo de olhares durou alguns minutos. Foi emocionante. Não sei por que, mas eu tive quase certeza de que aquele esquilo era uma esquila.

ôpa, que susto!

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Estava na horta tentando arrumar alguns galhos dos tomateiros que crescem selvagem e enlouquecidamente quando dei de cara com esse baita lagartão verde! A lente macro pegou todos os micro detalhes horrorendos desse bicho, cujo nome cientifico é Manduca quinquemaculata, mas é conhecido vulgarmente como Hornworms. Eu saí correndo, deixei o bicho lá no galho, mas vou ter que monitorar pra ver se ele não vai fazer nenhum estrago, pois esse tipo de lagarta come os tomates—uma coisa impressionante, ainda mais que nem consegui identificar qual é o lado da boca e se ela tem dentes. S u p e r f r e a k !

somos imãs de geladeira, tá?

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essa é de verdade

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co-co-ri-cór

litros, litros e mais litros

Acho que nunca bebi tanta água na minha vida, nem nos meus tempos de nadadora assídua. Com esse calor seco, reidratar é imprescindível e eu acordo e durmo bebendo água. Durante minhas horas de labuta isso irrita um pouco, pois provoca mais idas ao wanderley. Hoje, além dos quarenta e um graus celsius, está um fumacê horrível provocado pelos incêndios que, como todos já devem ter visto nos noticiários, estão castigando o norte da Califórnia. Nós estamos sentindo a calamidade pela névoa amarela e ardida que envolveu o nosso céu. É um cheiro tão forte de madeira queimada, que me faz ter vontade de chorar.

Ontem, jantando sozinha na mesa da sala, olhei para o quintal e vi através da porta de vidro a criaturinha delicada ali perto dos arbustos de lavanda. As perninhas finas, como as do Pernalonga, as orelhonas pontudas esticadas, os olhinhos meigos e o focinho mexendo pra lá e pra cá. O gato Roux já começou a bufar com a visão da lebrezinha, que permaneceu impávida, sem perceber que uma humana e um felino a observavam com diferentes intenções. O Roux mudou até de posição, depois de janela, para poder ver melhor. Eu parei de comer, parei de ler a revista que estava me acompanhando na saladinha de pepino com queijo feta e fiquei olhando com uma cara de parva sorridente apatetada até a lebrezinha dar um pulinho e desaparecer da minha vista tão rápidamente que nem vi pra onde.

Com esse calor miserável, senti muita pena da lebre pernalonga e orelhuda lá fora. Parei tudo que estava fazendo e fui até o quintal onde arrumei uma vasilha bem no meio do piso de tijolinhos e enchi de água fresca. O bichinho vai desidratar, ele precisa de água!

Mais tarde, contando o episódio pro Uriel, ele me disse que esses animais se viram muito bem e que chupam a água dos matinhos e plantinhas. De sede eles não morrem. Especialmente naquela selva que é o meu quintal.

controlando as pestes

Outro dia o Uriel achou uma aranha viúva negra caminhando alegremente pelas cobertas da nossa cama. Logo em seguida os inquilinos avisaram que tinham matado mais duas delas na varanda da casinha. Fechamos rapidamente todas as possíveis entradas de aranha, como ralos de pia, e chamamos imediatamente o serviço de controle de pestes. Já tivemos uma viúva negra no quintal, mas dentro de casa, em cima da cama, é sinal vermelho piscante—pode parar já com isso!

Então quando o Uriel ligou lá no serviço de controle de pestes, perguntando como iria ser feito o aniquilamento das aranhas, se eles iriam espirrar algum tipo de pesticida e se seria algo tóxico, já foi avisando—olha, nós temos uma lebrezinha vivendo no quintal e eu não quero que nada aconteça com ela, hein? não tem perigo dela se intoxicar? porque se a NOSSA lebre morrer, eu cancelo o serviço com vocês no mesmo minuto! Os caras garantiram que o produto que eles vão usar não vai fazer mal nenhum à NOSSA lebrezinha. Ufaaa!

fancy a cup of tea?

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Pelo menos uma vez por semana, lá vou eu para minhas garimpagens. Nem sempre encontro coisas legais e às vezes saio da lojinha de mãos vazias, o que não me deixa feliz pois eu quero muito ajudar os animais. Todo o lucro dessa lojinha de segunda mão vai para o abrigo dos animais que o SPCA mantém em Woodland. Eu estive naquele abrigo uma vez, quando deu um forrobodó com o senhor Misty. Fiquei arrasada e quis ajudar de alguma maneira. Minha contribuição é comprando coisas e doando o troco. Eu gasto bastante lá e muitas vezes saio com preciosidades como estas—bules para chá ingleses da década de cinquenta da Swan Brand, uma empresa que não existe mais. Os bules não devem ter muito valor monetário, mas são uma graça, feitos de aluminio cromado e decorados com desenhos em relevo.

os indesejados

Realmente, dá uma baita raiva quando você vê um buraco perfeito, como se aquele pezinho de manjerona tivesse sido sugado por uma micro-nave espacial. Na verdade, a ervazinha plantada por você com carinho e antecipação foi arrancada pelas patinhas habilidosas de um gopher ou esquilo. Outros danos são causados por outros roedores, que aparecem sem serem convidados e se instalam na sua propriedade. Agora o meu quintal é a foster home de uma lebrezinha de uma fofurice que até dói o coração. Ela é super minúscula, com um par de orelhonas e olhinhos meigos e doces, deve ter se perdido da mãe. Quando vou ao quintal ouço o barulhinho dela correndo, se escondendo. Às vezes vejo um pequeno vulto, passando rápido como um raio. Outras vezes vejo ela direitinho quando estou na janela, do lado de dentro da casa, e ela não está vendo que eu estou vendo. É uma lindeza de criatura, mas estou de olho, pois não quero que ela faça estragos na minha horta. Morar no quintal tudo bem, mas há regras, como os nossos inquilinos bem sabem.

Minha amiga Alison está tendo problemas muitos piores que o meu, pois a horta dela é muito maior e ela mora numa área rural. O que fazer? Não sabemos. Pra mim só resta vigiar e me descabelar no caso de alguma perda. Ela busca por alternativas. Outros já encontraram e decidiram pegar em armas. Mas pra mim, isso não é, nem nunca será uma opção.

tô-fraco-tô-fraco-tô-fraco

Cheguei no trabalho pela manhã, tive apenas tempo de ligar meu computador e ainda estava de casaco e boina quando meu chefe veio falar comigo:

[C]—você viu as aves lá fora? elas estão naquela parte de grama da esquerda e são muitas.
[F]—não vi, elas estão vivas ou mortas?
[C]—vivas! estão ciscando todas juntas no gramado!
[F]—nossa, não vi nada! onde?

Ele me acompanhou até a porta e quando abriu eu pude ver, como se estivesse sonhando, um bando de galinhas d'angola gorduchudas e felizes atravessando a rua apressadamente. Uma que ficou um pouco para trás, deu até uma voada rasante para conseguir alcançar as outras. Fiquei pasma! Ficamos confabulando que tipo de aves eram aquelas, embora eu já soubesse que eram com certeza as famosas d'angolas. Mas de onde elas sairam? Será que elas pertencem à algum departamento da faculdade de veterinária? Que eu saiba na UC Davis não tem zoológico.

O que podemos fazer

A divulgação de um video perturbador pela Humane Society precipitou o maior recall de carne da história deste país. Eu não vi o vídeo, porque não consigo. Mas não preciso ver o horror pra me sentir completamente enraivecida e desolada. O excelente food blog The Kitchn listou alguns links úteis e outros importantes para alargar os horizontes da discussão. O que importa é que o video chocou e que o USDA tomou uma atitude, que deveria se expandir e multiplicar. Pra quem ainda não sabia desses horrores, fica a pergunta—e agora, o que fazer? Pra mim a resposta é muito simples: diminuir o consumo de carnes e buscar produtos de fontes confiáveis. Eu não quero contribuir com nem UM CENTAVO para essa indústria baseada em brutalidade e crueldade. Além do meu já declarado compromisso com os fazendeiros e pequenos negociantes do Farmers Market e com os supermercados locais, ainda posso contar com uma grande ajuda—o Eat Well Guide, um mecanismo de busca para ajudar a encontrar os bons produtores na sua área. Funciona otimamente, para EUA e Canadá.

O respeito que eles merecem

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O Dilema do Onívoro de Michael Pollan é um livro impressionante, cuja leitura com certeza vai causar algum tipo de mudança na vida de quem estiver predisposto. Pra mim, o efeito foi devastador na minha rotina de semi-carnívora.

Eu sempre acreditei que não nasci carnívora, pois desde as minhas mais tenras lembranças eu olhava para a dieta com carnes de animais com uma certa repulsa. Mas também não posso afirmar que sou uma vegetariana. Fico ali em cima do muro, me equilibrando entre ascos de nojo e comendo animais com uma certa desconfiança. Nunca pensei em adotar uma dieta vegetariana, embora tenha passado por longos períodos de abstinência. Não foi decisão, foi só acontecendo.

Ainda não tenho intenção de adotar uma dieta cem por cento vegetariana, mas a leitura do livro do Pollan me fez ver claramente um fato que eu sempre soube que existia, mas nunca fui buscar informação sobre detalhes: a brutalidade e a crueldade na indústria de criação de animais para consumo. Sempre pensei nas galinhas e nas vacas, mas nunca soube, ou quis saber, exatamente o que acontecia com elas. Mas agora eu tenho um pouco de informação, que é apenas uma olhadela no horror dos criadouros e abatedouros, mas pra mim já foi suficiente.

Chorei de desidratar em muitas partes do livro. O único livro que tinha me feito chorar desse jeito foi o Ensaio sobre a Cegueira, do José Saramago, que li há muitos anos e que me impressionou muito. Depois dele veio O Dilema do Onívoro.

Quando Pollan revelou a chocante informação de que os porcos são TÃO ou MAIS inteligentes que os cachorros, eu desfaleci de tristeza… Se você tem ou teve um cachorro, sabe como eles reagem ao sofrimento. Pois o porco, confinado num campo de concentração sem espaço, estressado ao ponto de comer o rabo do outro porco que está na sua frente, também estressado e sem espaço, nunca vai ter a vida de um cachorro. Poderia ser um filme de terror, mas não é.

O que acontece comigo agora é que eu não consigo tolerar nem olhar pra aquelas bandejinhas com cortes de carne no supermercado. Sinceramente, não dá. Eu continuo comprando carne, mas eu preciso ter certeza que estou comprando um produto decente, que fez o animal passar pelo processo todo com um mínimo de humanidade, com um pouco de respeito, porque eu não acho completamente errado que animais morram pra nos alimentar, mas tudo tem que ser feito com dignidade e com compaixão.

Pollan discute o fato de que um animal criado em condições melhores vai encarecer o produto final, mas a verdade é que ninguém precisa comer carne todo santo dia. Assim, quando comêssemos carne—diz Pollan—faríamos com consciência, com cerimonia e com o respeito que os animais merecem.

batendo na mesma tecla

Tenho falado como uma matraca emperrada para todos que tenham a disposição de me ouvir, que eu percebo claramente um movimento muito forte de retorno à maneira tradicional e normal de se produzir e consumir alimentos. Já bati na tecla dos ovos orgânicos e fertilizados, que os produtores não conseguem suprir a procura e também na do leite cru, que está mais cotado que whiskey não falsificado em tempo de Lei Seca.

Raising poultry the new-old way— o artigo do San Francisco Chronicle comenta a demanda por frango criado da maneira antiga, solto no terreiro, ciscando. A matéria se concentra na fazenda Soul Food, que cria pastured chickens aqui pertinho, em Pleasant Valley. Um dos clientes dessa fazenda é o restaurante Chez Panisse, em Berkeley. Alice Waters, co-fundadora do Chez Panisse, foi a precursora desse movimento dos alimentos frescos, locais, naturais e orgânicos aqui nos EUA.

Mas o frango não basta ser certificado orgânico, tem que ter nascido e crescido normalmente, ciscado e rolado na poeira. Muitas fazendas orgânicas seguem as regulamentações, mas os frangos nunca viram a luz do sol. Eu acredito que as fazendas sustentáveis são o futuro. O artigo do SFC admite que o frango caipira ainda custa mais caro, mas se o consumidor pudesse ver como ele é criado, nem iria pensar em preço. Pois como escreveu a minha musa M.F.K. Fisher em How to Cook a Wolf—prefiro comer apenas uma pequena porção de um ingrediente de qualidade, do que me empanturrar de um montão de porcaria.

velhas novidades

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Muita gente ainda não sabe, mas eu sou uma asídua frequentadora das notáveis thrift stores, as lojas de segunda mão. Já discorri sobre minhas garimpagens AQUI e AQUI. Sempre que posso dou uma passadinha na lojinha dos bichinhos—que é como eu chamo a thrift store da Sociedade Protetora dos Animais. Adoro ir lá. O lugar é uma casinha de esquina totalmente apinhada de cacareco de todos os tipos, onde os vendedores jovenzinhos de visual punk-rebelde nos atendem hora com uma cara simpática, hora com uma atitude completamente blasé. Eu curto ficar ouvindo todo tipo de rock 'n' roll que eles tocam num IPod ou num CD ou K7 player, enquanto faço um rolê pela loja. Vou garimpando por partes—a prateleira das louças brancas, a dos motivos orientais, a do design italiano, do estilo latino, as louças em geral, as panelas, os copos, os talheres, as cerâmicas. Os tesouros que se acha por lá são inacreditáveis. Estou sempre tentando entender qual é o critério que eles usam para colocar os itens à venda e definir os preços. Chego à conclusão que eles devem usar a técnica da roleta russa ou fazem um uni-duni-tê, porque nada faz sentido. Muitas vezes eu vejo peças novas, ainda com a etiqueta da loja colada. Como tudo o que é vendido na lojinha dos bichinhos é doação, imagino o quanto as pessoas são despreendidas, ou fúteis. Estamos num estado rico, mas mesmo assim eu me surpreendo. E volto sempre, que eu não sou boba nem nada. E ainda fico feliz por estar ajudando os animaizinhos.

pega os ovos da galinha

Uma máteria do New York Times sobre a procura do consumidor por ovos caipira me deixou realmente satisfeita. Não só o consumidor comum decidiu optar pelos ovos das galinhas não-confinadas, não-torturadas, não-turbinadas e intoxicadas, como também os restaurantes das universidades, das redes de hoteis, de companhias como o Google ou dos sorveteiros Ben and Jerry’s. A rede de supermercados Whole Foods, por exemplo, já nem vende mais os ovos das galinhas robotizadas! Iurru! Depois de ler O Dilema do Onívoro, eu não tenho ilusões de que a galinha cage-free leva uma vida exatamente livre, mas qualquer passo em direção ao retorno do curso natural das coisas já é uma vantagem. E no meu modo de pensar tudo funciona de maneira bem simples: nós, consumidores, é que decidimos e direcionamos o mercado. Se ninguém mais comprar certos produtos e começar a comprar uma coisa diferente, o mercado vai ter que se adaptar e mudar. Exatamente o que está acontecendo com os ovos. Eu não me importo de pagar um pouco mais. E ainda prefiro comprar ovos de produtores locais. Escrevo aqui sobre o que acredito e também pratico, o que é o mais importante.

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Eu traduzo como "ovo caipira" todos esses termos que defininem os ovos das galinhas não torturadas, à venda aqui nos EUA. Mas há detalhes mais específicos sobre cada um deles. Normalmente eu compro os "free range", "fertile", "certified humane". Definições técnicas para cada tipo de ovo, incluindo o mais conhecido "cage-free", estão listadas neste glossário.

tira o leite da vaquinha

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Quando vamos para Point Reyes passamos por inúmeras fazendas leiteiras, que transformam a região numa imensa paisagem de comercial de televisão, com pastos verdinhos, cerquinhas, vaquinhas faceiras e se você der sorte, como nós demos, bandos de cervos correndo pelos morros. Dá vontade de parar para tomar um copo de leite, mesmo eu não sendo fã número um desse produto.

Na minha decisão juramentada de consumir produtos locais, estou fazendo algumas mudanças. Eu tenho a sorte de viver num dos estados com a maior e mais variada produção de alimentos do país, então não está sendo muito difícil acomodar os produtos locais. Eu já era compradora do iogurte estilo europeu e da manteiga dessa fazenda orgânica, e agora estou começando a comprar todos os seus outros produtos. As garrafas de leite e creme são recicláveis e refundáveis, você leva de volta pro supermercado e recebe umas patacas de volta.

I see jack rabbits

Grumpy old me indo para a cozinha pela manhã para abrir a lata de comida dos gatos com aquela cara de mal humorada de sempre, quando vejo uma coisa peluda pulando pelo quintal. Tive um sobressalto, pois às vezes recebemos visitas nada bem-vindas de ratazanas vindas do Arboretum da universidade—de onde vem também os patos que acampam no gramado do jardim. Mas que surpresa, parei admirada e encantada com a visão delicada e fofinha de um filhotinho de lebre, um jack rabbit. Eles são uma verdadeira praga, mas oh dear lord, são também tãooooo adoráveis. Fiquei um tempão ali na sala, olhando o bichinho com um sorrisão na cara, enquanto ele piscava as orelhinhas e comia folhas verdinhas de um belo dandelion ali brotado no meio dos pedregulhos. Os gatos me olhavam da cozinha com aquela cara de "cadê o nosso rango, madame?". Só parei de sorrir e voltei à minha cara normal de birrenta matinal quando a lebrezinha se retirou, aos pulinhos. Esses bichinos comem as ervas da minha horta, destroem tudo, mas são fofos demais de olhar. No campus da universidade há uma verdadeirta infestação de esquilos e eles muitas vezes são inconvenientes, atrapalhando a passagem das bicicletas e nos dando sustos, quando pulam sem aviso na nossa frente. Mas mesmo eles sendo uma importuna onipresença, sempre dou risada quando vejo um—e acho que vejo uns 877665554 por dia! Como as lebrezinhas, os esquilos também são uma das pestes mais adoráveis do planeta.

Os comedores de milho

Passei o final de semana de óculos, lendo o livro do Michael Pollan, The Omnivore's Dilemma [O Dilema do Onívoro]. Terminei o primeiro capítulo, onde ele faz uma analise criteriosa da alimentação predominante neste país. Pollan faz primeiro um restrospecto, chegando à base de todo o sistema e parte dali para fazer uma desconstrução minuciosa de todo o processo que termina na nossa mesa e estômagos. O retrato que ele pinta é terrivelmente assustador. Eu diria que The Omnivore's Dilemma poderia ser comparado com Sugar Blues do William Dufty, o livro demonificando o açúcar que foi um marco para a época [década de 70/80]. Claro que o livro de Pollan é muito mais elaborado e critica toda a indústria de alimentos, não somente um setor, como foi o caso do livro do Dufty.

Como já iniciei o segundo capítulo, percebi que ele não vai ficar só criticando em vão—apesar que vai ousar mais um pouco, metendo a boca na indústria dos orgânicos, bem representada pela rede Whole Foods. Pollan vai mostrar que há alternativas. Já vi esse livro ser mencionado por muitos food bloggers, já li que ele é um best-seller, o autor fez palestras aqui na UC Davis [ele é professor na UC Berkeley], o livro já foi discutido em colóquios e seminários sobre agricultura sustentável. E ouvi dizer que muita gente mudou a maneira de se alimentar depois de ter lido The Omnivore's Dilemma. No meu caso de pessoa super impressionável, eu pressinto que haverão algumas mudanças que estavam na portinha de acontecer, só faltavam um pequeno empurrãozinho. Há tempos que venho tentando estender minhas compras de orgânicos também para carne e frango. Frango que não foi confinado e injetado com antibióticos e boi que pastou, não teve que fazer a dieta do milho.

Milho! Essa é a palavra chave do primeiro capítulo do The Omnivore's Dilemma. Tudo de errado que temos na indústria alimentícia da América do Norte é devido à esse grão, antes cultuado como alimento sagrado pelos indígenas das Américas. Hoje o milho é a base de tudo, tanto da alimentação dos animais que vamos comer, como dos ingredientes de quase absolutamente tudo o que ingerimos. Pollan traça um paralelo entre a política da agricultura e o estilo de vida norte-americano. O estilo de escrever de Pollan é considerado por muitos como "advocacy journalism", onde o objetivo final é provar um certo ponto de vista. Se você ler o livro, vai perceber isso facilmente. Mas pra mim, o mais importante é alguém trazer ao público certas informações sobre a industria dos alimentos, que poderíamos passar a vida inteira sem saber.

A parte do livro mais difícil de ler até agora, foi a que ele descreve como o gado é criado para virar bife. Ele comprou um novilho, que acompanhou durante o processo de engorda. Fiquei o final de semana todo refletindo sobre o que estava lendo e repassando os fatos pro Uriel:

—você sabia que os hamburgueres das redes de fast-foods são feitos com basicamente carne das vacas leiteiras que estão muito velhar pra parir e produzir leite?

Alguma coisa vai mudar. Ou melhor, com certeza alguma coisa já mudou.

eles agradecem!

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Dei um pulinho na minha thrift store favorita aqui em Davis, a que ajuda o SPCA - Sociedade Protetora dos Animais. Já comentei outras vezes aqui sobre as minhas garimpagens a achados nas lojas de segunda mão. Fazia meses que eu não dava uma passadinha na lojinha dos bichinhos, porque meu nome do meio é "falta de tempo". Mas toda vez que eu vou lá, volto carregada! Fiquei simplesmente louca desopirocada por uns dez minutos, enchendo uma cestinha de coisas bacanas pra cozinha! Depois eu lavo tudo muito bem com água fervendo, ou na lava-louça e os objetos reciclados ficam prontos para a nova vida, na nova casa. Adoro ir lá, não só pelas coisaradas legais que eles têm às pencas pra vender, mas também porque eu ajudo de certa maneira os bichinhos órfãos. Sempre coloco um dinheirinho na jarra de doações e compro o que gosto sem piscar, porque sei que toda a grana vai pra uma linda causa.

* Pra você que mora no Brasil e quiser ajudar uns bichinhos, talvez mais necessitados ainda que os daqui, a minha amiga querida Gabriella Galvão organizou uma rifa para ajudar as centenas de gatos que a mãe e o padrasto dela cuidam, em Salvador na Bahia. O website da rifa explica tudo. E o prêmio é um lindo oratório de São Francisco de Assis. Podre de chique!

Garimpagem

Os objetos mais interessantes que eu tenho na minha cozinha são achados de thrift stores - como uma chaleirinha francesa vermelha sapicada de bolinhas, inúmeras jarras e saladeiras artesanais de cerâmica, panelas Le Creuset, xícarazinhas italianas para café, travessas vintage ou os impagáveis pratos decorados com moscas! Eu passo de vez em quando nas lojinhas da cidade. Gosto da loja do SPCA, porque sei que o dinheiro que eu gasto lá ajuda os cães e gatos orfãos e abandonados. E é lá que eu acho as coisas mais bonitas e diferentes. Quando vi esses pratos das moscas não acreditei.... agarrei todos bem rapidinho e fiquei com uma risada besta na cara. Geralmente é assim, eu passo os olhos pelas prateleiras e vou agarrando tudo o que eu gosto. É gostou, pegou, porque se você não pegar, alguém que virá logo depois de você com certeza pegará e então é byebye forever, porque você não encontrará algo similar tão cedo. Fico pensando em quem doa essas coisas diferentes pra lojinha. Será que comprou e não gostou? Ou enjoou? Muitas vezes são coisas lindas e novas. Eu acho que as thrift stores são uma das poucas conseqüências positivas do consumismo desenfreado que se pratica aqui. Pelo menos essas pessoas doam as tralhas, não vendem, como outras pessoas fazem em garage sales. E eu vou lá e compro, o que não deixa de ser consumismo também, mas pelo menos eu me concentro na boa causa, de ajudar os bichinhos, e me sinto muito mais leve, sem culpa.

Consciência pesada

Fomos comer caranguejo e camarão num desses restaurantes barulhentos e atravancados e badulaques pendurados no teto, que marcam presença em cidades em beiras de rio ou mar. Me contaram então como se cozinha o caranguejo ou siri—nunca sei se são sinônimos com sotaques regionais, ou coisas completamente diferente—para que a carne fique macia, suculenta e com muito sabor. É o horror dos horrores! Os bichos são mergulhados vivos em água fria e vão cozinhando lentamente....

O caranguejo que comemos não passou por essa tortura. Foi morto e congelado antes de ser cozido. Menos mal. Mas o assunto foi pra uma área muito complicada e realmente difícil pra mim. Falamos dos frangos de granja que vivem uma vida curta e sofrida, sendo alimentados forçadamente de duas em duas horas, e das pobres vacas que viram bife, e das lagostas jogadas vivas na água quente, e dos peixes degolados. Sinceramente, se eu pensar muito viro vegetariana. Alias, não viro, mas sim desviro, pois tenho certeza absoluta que nasci uma vegetariana e fui lobotizada para me tornar uma carnívora. Minha mãe que sabe o sofrimentro que era me fazer engolir um bife. Resisti a minha infância toda, até me libertar na minha adolescência, quando eliminei todas as carnes da minha dieta. Se proteína animal é imprescindível para o crescimento do ser humano, eu certamente sou uma aberração, pois cresci - e muito, sem ela.

Hoje eu como carne vermelha, peixe, camarão, carangueijo, lagosta, frango, mas tudo em moderação. Porco muito de vez em nunca. Não como molusco de nenhum tipo, nem sapo, escargot, paca, cobra, macaco, capivara, jacaré. Também não como coelho, nem pombo, nem vitela. Fico satisfeita e feliz com um bom prato de espaguete ao alho e óleo, queijo e pão.




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